Então, essa história com o Miguel Arroyo… começou faz um tempo já, quando eu tava metido nuns projetos de educação pra galera mais velha, sabe? Educação de Jovens e Adultos, o tal do EJA. Eu li umas coisas dele, uns textos que falavam de conectar a escola com a vida real do aluno, de respeitar o conhecimento que o pessoal já traz. Achei aquilo genial na época.

Pensei comigo: “É isso! Tem que ser assim!”. Chega daquela coisa de escola chata, que parece que não tem nada a ver com o dia a dia, né? Fui todo animado tentar botar em prática.
A ideia era boa, mas na prática…
Olha, vou te falar, o negócio não é tão simples quanto parece no papel. A gente tentou montar umas aulas diferentes, puxando assunto a partir dos problemas lá da comunidade deles, do trabalho, essas coisas. A ideia era fazer o conteúdo da escola – português, matemática – ter sentido a partir da vida deles, como o Arroyo defendia.
- Primeiro, teve a resistência da própria estrutura, né? Pessoal acostumado com o jeito antigo, livro didático, lição no quadro. Chegar com ideia diferente já dá um burburinho.
- Depois, a realidade dos alunos. Pensa só: gente cansada depois de um dia inteiro de trabalho pesado, muitos com problemas em casa, saúde, falta de grana. Às vezes, o que eles menos queriam era “problematizar” a própria vida na sala de aula. Queriam o básico, o diploma, rápido.
- E falta de material, de apoio… a gente se virava como podia, mas era puxado. Tinha dia que dava um desânimo, parecia que a gente tava remando contra a maré.
Lembro de uma vez que a gente tentou fazer um projeto sobre o bairro, mapear os problemas, discutir soluções. Foi legal, envolveu uma galera, mas deu um trabalhão! Organizar, correr atrás de informação, lidar com a burocracia pra conseguir qualquer coisinha… Foi aí que eu vi que a teoria é bonita, mas a prática exige um jogo de cintura enorme.
O que ficou dessa história toda
Não vou dizer que foi um fracasso total, longe disso. A gente conseguiu umas vitórias pequenas, viu gente se interessando mais, participando. Mas também não foi aquela revolução que eu imaginava lendo os textos do Arroyo no começo.
O que eu aprendi mesmo foi que essas ideias são um norte, um horizonte pra buscar. Mas o caminho pra chegar lá é cheio de curva, de buraco. Não dá pra pegar a receita do livro e aplicar igualzinha. Cada lugar é um lugar, cada turma é uma turma.

O importante, acho, é não desistir de tentar fazer uma educação mais humana, mais conectada com a vida. Mesmo que seja aos trancos e barrancos, adaptando aqui, mudando ali. Aquela empolgação inicial virou uma coisa mais pé no chão, sabe? A gente continua tentando, aprendendo todo dia. É isso.