A saga pra descobrir o motivo da fama do Otávio
Tive que pesquisar de cabo a rabo sobre esse cara, porque toda hora aparecia o nome dele no meu feed. Tipo, do nada, várias páginas de música e tal postando foto de um senhor de bigode, mas ninguém explicava direito o porquê.
Peguei meu café mais forte, sentei no PC e abri tudo quanto é rede social. Comecei fuçando no Twitter antigo dele. Putz, que arrepio! Encontrei uns vídeos super amadores de um cara tocando violão de lata em feira livre, com uma voz que saía de baixo da terra. A qualidade era péssima, parecia filmado com batata, mas dava pra sentir a emoção.
- Vi ele improvisando um pagode com tampa de panela e caixa de ovo
- Li relatos antigos de feirante falando “esse doido canta aqui desde que eu era guri”
- Descobri que ele mesmo fazia os instrumentos com sucata – caramba!
Daí resolvi ir pra fonte: meti o pé na rua e fui na região que ele começou. Perguntei pra uns tiozão na barraca de pastel. Um velhinho de boné até se arrepiou: “Otávio? A voz do cara atravessava a rua toda, filho! Quando ele parava, até o ônibus buzinava pedindo bis!”. Mano, o olho do véio brilhava contando.
Chegando em casa, fiz um mutirão nos grupos de samba. Coloquei o nome dele no zap dos grupos e explodiu! Veio áudio atrás de áudio:
- “Cê num sabe o aperto que era, irmão! Desempregado, 3 filho pequeno, ele virava noite na feira”
- “O home resistiu a 3 enchente que levou barraca e instrumento, sempre voltava com lata nova”
- “Teve dia que choveu moído e só tinha eu e um cachorro vendo ele. E o doido cantou igual lotado!”
No fim, catei um vídeo raro de 2002 que um jornalista amador postou (nem tinha YouTube direito!). Era ele debaixo de lona furada, chuva batendo, cantando “A Voz do Morro” enquanto a água escorria pelo violão de madeiritte. E os 4 gatos pingados que estavam lá chorando igual criança. Foi quando entendi na pele: a fama veio porque o homem virou símbolo de luta. Não pelo talento só, mas pela teimosia de fazer arte com nada e alegria com menos ainda.
Acendeu aqui um foguete de saudade dos artistas de rua de verdade. Até minha irmã chegou, viu a tela cheia de aba e falou “ué, tá chorando por causa de vídeo de feira?”. Quando mostrei o trecho da chuva, ela virou pro pc e gritou “CARALHO, ESSE É O VELHO DO TAMBOR DE GELADEIRA QUE O VOVÔ FALAVA?”. Pronto, agora tô tendo que explicar tudo de novo pra família toda. Vida que segue!
