Como tudo começou
Num dia comum, tava escorregando no banheiro quando percebi: meu dedo tava dançando sozinho, igual celular no vibra. Fui no médico achando que era estresse, mas o véio me deu um tapinha no ombro e soltou: “Parkinson, meu jovem.” Pensei que ia cair duro ali mesmo.
Voltei pra casa com a cabeça girando. Viajei pela internet igual louco atrás de qualquer coisa que ajudasse. Foi aí que um vídeo do Rickson Gracie apareceu. O homem falando de respiração, de controle… e eu pensando: “Po, se funciona pra estrangular gente no chão, será que não ajuda contra esse tremor maluco?”
Botando a mão na massa (sem tremer)
Comecei na manhã seguinte. Coloquei o tapete de yoga no chão da sala – nem tinha kimono, tava de moletom mesmo. A primeira lição foi simples: respirar feito peixe fora d’água. Inspirei até as costelas doerem, soltei o ar devagarinho enquanto contava até 10. Nos primeiros dias, ficava tonto e caía sentado.
Quando tentei a postura básica que ele ensina – aquela de quatro apoios com as costas arqueadas – meu braço esquerdo começou a bater no chão igual martelo pneumático. Xinguei tudo que é santo. Mas no terceiro dia, consegui segurar 20 segundos sem tremer. Fiquei emocionado que nem criança ganhando bicicleta nova.
Os perrengues que ninguém conta
Teve dia que o tremor vencia. Acordei com o corpo todo travado, parecia boneco de madeira. Tentei fazer os exercícios no chão e bati a cabeça no batente. Fiquei deitado olhando pro teto, com um bloquinho de gelo na testa e vontade de chorar. Mas lembrei do velho Gracie falando no vídeo: “Respira antes de reagir”. Soltei o ar até o estômago encolher, levantei e tentei de novo.
Minha grande vitória? Quando fui trocar de camisa e consegui abotoar sozinho sem demorar meia hora. Usei o truque da respiração controlada antes de cada botão. Quando fechei o último, gritei “OSS!” pro espelho como um maluco.
O que aprendi na raça
- Respiração é arma secreta – Quando o tremor vem forte, encher os pulmões devagar segura a onda
- Queda faz parte – Cair não é fracasso, é só mais um chão pra levantar
- Progresso é milimétrico – Comemorar cada botão abotoado como se fosse medalha de ouro
- Raiva não ajuda – Xingar só faz tremer mais, aceitar a merda traz calma
Hoje continuo acordando cedo pra minha guerra particular no tapete. Alguns dias pareço bambu no vendaval, outros consigo ficar estável que nem pedra. Tô longe de ser faixa preta no Parkinson, mas pelo menos já não vivo no modo vibracall. O segredo? Não parar. Nem que seja pra tremer em cima do tapete ao invés do sofá.