Ah, essa pergunta sobre “racha”… Senta que lá vem história, porque pra entender o que é isso na real, não adianta só ler definição de dicionário, não. Tem que ter visto, ou quase participado, pra sacar a vibe – e o perigo.
Minha “prática” com essa história de racha
Na minha época de moleque, lá pelos anos 90, começo dos 2000, essa parada de “racha” começou a pipocar forte. Não era todo dia, nem em qualquer lugar, mas a gente ouvia falar. Carro mexido, motor roncando alto de madrugada, aquela adrenalina que a juventude adora sem pensar muito nas consequências. Minha “prática” inicial foi de pura curiosidade, aquela coisa de querer ver de perto o que tanto falavam.
Eu morava numa cidade que tinha umas avenidas mais afastadas, longas, que de noite ficavam desertas. Era o palco perfeito, né? A galera se juntava, carros que você via de dia pacatos na rua, de noite pareciam transformados. Era um burburinho, uma tensão no ar. Luz de farol cortando a escuridão, o cheiro de pneu queimado misturado com gasolina. Pra ser sincero? No começo, tinha um quê de “filme”, de coisa proibida que atrai.
Lembro de uma vez específica. Eu não tava pilotando, graças a Deus, nem tinha carro pra isso na época. Fui na onda de uns “amigos”. Chegamos lá, e o clima era pesado. Não era brincadeira de criança. Tinha gente apostando grana, carro contra carro. Vi uns caras que pareciam ter saído direto de oficina, com macacão sujo de graxa, mexendo nos motores até o último segundo. Aquilo ali não era esporte, era outra coisa.
O “racha” em si? É rápido, é barulhento. Dois, às vezes três carros alinhados. Alguém dá um sinal improvisado, e é aquele berro de motor acelerando ao máximo. Em segundos, eles somem na escuridão. Depois, a espera tensa pra ver quem voltava primeiro, ou se voltavam inteiros.
Onde a ficha caiu de verdade
A “prática” de observar começou a virar um “registro” amargo na minha cabeça quando as coisas começaram a dar errado. Uma noite, um dos carros perdeu o controle. Não foi uma batida cinematográfica, não. Foi seco, rápido. Um barulho horrível de metal se contorcendo. Sorte que não pegou ninguém que assistia, mas o carro ficou destruído. O piloto saiu mancando, pálido. Ali, pra mim, acabou a “graça”.
Vi gente sendo presa, perdendo carteira, carro apreendido. Vi amizades se quebrarem por causa de dívida de aposta ou por um ter colocado o outro em risco. Aquele “glamour” inicial, se é que existiu algum, se desfez completamente.
Com o tempo, fui me afastando dessa galera e desse ambiente. Comecei a entender que aquela “adrenalina” toda era, na verdade, uma estupidez gigantesca. Uma roleta russa com a própria vida e com a dos outros. Não tem nada de habilidade ali, é sorte e irresponsabilidade.
Então, se você me perguntar hoje “o que é racha?”, eu te digo com toda a tranquilidade de quem já viu de perto o suficiente pra não querer mais nem ouvir falar:
Racha é a combinação de ego inflado, falta de noção e um desprezo pela vida. É uma competição ilegal, perigosa, que não leva a lugar nenhum a não ser pro hospital, pra delegacia ou, no pior dos casos, pro cemitério. Não tem heroísmo, não tem glória. É só um bando de gente arriscando tudo por alguns segundos de uma emoção vazia que pode custar muito, muito caro.
Pode parecer duro falando assim, mas é a real. Minha “prática” e meu “registro” sobre isso me ensinaram que tem jeitos bem melhores e mais inteligentes de sentir adrenalina. Deixa o carro pra te levar pros lugares, e não pra te levar pra uma fria. Essa é a visão de quem já viu o filme e não gostou do final.
