Quando comecei minha busca por ondas monstruosas em Santa Catarina, confesso que quase perdi a esperança. Porque? Internet cheia de informações velhas e grupos de surf com dicas contraditórias. Teve uma galera jurando que tal praia era perfeita, só pra eu chegar lá e encontrar uma lagoa.

A Primeira Pancada
Peguei meu carro velho e desci pra costa. Primeira parada? Uma praia famosinha que todo mundo tava falando. Cheguei de manhã cedo, prancha já amarrada no teto, adrenalina a mil. Resultado? O mar tava plano que nem piscina de condomínio. Fiquei lá três horas, tomando café termo e olhando pros outros turistas tão decepcionados quanto eu. Zero onda. Nada.
O Pulo do Gato
Foi quando resolvi mudar a tática. Em vez de seguir modinha na internet:
- Passei a marinar nos quiosques mais velhos – aquele puxadinho com mesas de plástico e dono com cara de quem já viu tudo.
- Fiquei amigo do senhor que alugava cadeiras na areia há 30 anos – e olha que ele riu quando perguntei sobre as praias dos influencers.
- Acordei antes do sol, não pra surfar, mas pra ver os pescadores lançando barco. Perguntei pra eles onde o mar costuma “levantar feio”.
Aí veio ouro puro. Um deles apontou pra um trecho escondido atrás de um morro, cheio de pedra. “Lá bate diferente, moço. Só para maluco e filho da mãe.” Melhor elogio que já ouvi.
No Olho do Gigante
No outro dia, tava lá na pedreira às 5:00. O vento gelado cortando a cara, neblina encobrindo tudo. Até que o céu clareou e… caraca. Nunca vi tanta água se empilhando tão alto. Rolos grossos, azul escuro, quebrando com um barulho que parecia trovão. Até assustei um pouco, pra falar a verdade.
Mas não era só olhar não. Anotei direitinho:

- O Vento: Quando sopra de leste, forte mesmo, o mar incha que é uma beleza.
- A Maré: Nem alta demais, nem baixa demais – tem que estar subindo.
- O Fundo: Aquelas pedras fazem a mágica, focando a onda que parece que vem do nada.
E o ápice? Um tubo formando na direita. Líquido e perfeito. Nem tentei entrar, sou muito pé de pato pra aquela selva. Fiquei só na admiração e no respeito. E na água até os joelhos, pra sentir o ronco do oceano.
Conclusão Não Técnica
Lugar bom pra ver onda monstra não é onde enche de turista de celular. É onde o pescador veterano fica quieto encarando o horizonte, onde o dono da lancha te oferece café sem perguntar seu nome, e onde o chão do mar é implacável. Tô cheio de raspão nas canelas pra provar. Valeu cada pedra no caminho e cada minuto de espera naquela friaca de rachar. O gigante mora nos detalhes – e nas escolhas erradas que a gente conserta andando e perguntando.